O NÃO-POEMA INTENCIONAL

sento pra escrever

meu inventário de não-vontades

que confunde-se com desvontades

que, num salto, torna-se outra

coisa: vontade nula

(deserto que empaca e fica

mudo; sobre tudo, o sol)

sentencio que estou sem vontade

que é outra possibilidade

- não o contrário, não o

complemento, não a igualdade que,

por falta de outro nome, aqui

chamarei "a inválida" -

e no fim, depois de tudo, antes

do abismo do nada, a lúcida vantagem

(a única, aliás)

é ver, vindo de trás

o lirismo mudo, sem imagens

da preguiça que traduz-se

num clímax sem viço: miragem

apenas

mais nada