Decerto um futuro

Eu vou desaparecer

Com o vento que passa,

Com a chama que arde.

Ou certamente perderei a graça

E nunca mais nada terá sido

Ou havido assim tão tarde.

Eu vou me perder

Em meus abismos,

Em teus desertos,

Escoarei como água

Pelo ralo da terra

Até as profundezas.

E me perderei

Na palavra que não encerra

Resquício algum de certeza.

E haverei de morrer

Em teus silêncios plenos

E no teu abandono eterno,

Escravo de tua indiferença

Ou presa dessa vontade sem dono.

E sei que nada serei

Em teus olhares se me olhares.

E sei que nunca estarei

No meio de tudo que amares.

Porque amar também cansa

E quem espera um dia desespera.

A tua mão não me alcança,

O teu olhar não me encontra,

A tua vontade não me toca

A tua carne não me sabe

E a tua alma não me pertence.

Eu sei que vou vagar

Por terras que não conheces,

Por sonhos que não tiveste,

Em histórias que não escreveste

E num tempo em que não nasceste.

Eu sei que vem de um amor absurdo,

Sempre, tudo o que vou amar.

E sei que tudo que amarei

Será apenas a tua ausência,

A tua existência distante,

Essa tua vontade hesitante,

O ínfimo de tua essência.

E se em mim tudo é realidade,

Se tudo é de pedra, de verdade,

E se tudo é pura consistência,

Em ti tudo de mim vai ser

Essa mera inexistência.

Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 10/12/2013
Reeditado em 06/02/2021
Código do texto: T4605581
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