Decerto um futuro
Eu vou desaparecer
Com o vento que passa,
Com a chama que arde.
Ou certamente perderei a graça
E nunca mais nada terá sido
Ou havido assim tão tarde.
Eu vou me perder
Em meus abismos,
Em teus desertos,
Escoarei como água
Pelo ralo da terra
Até as profundezas.
E me perderei
Na palavra que não encerra
Resquício algum de certeza.
E haverei de morrer
Em teus silêncios plenos
E no teu abandono eterno,
Escravo de tua indiferença
Ou presa dessa vontade sem dono.
E sei que nada serei
Em teus olhares se me olhares.
E sei que nunca estarei
No meio de tudo que amares.
Porque amar também cansa
E quem espera um dia desespera.
A tua mão não me alcança,
O teu olhar não me encontra,
A tua vontade não me toca
A tua carne não me sabe
E a tua alma não me pertence.
Eu sei que vou vagar
Por terras que não conheces,
Por sonhos que não tiveste,
Em histórias que não escreveste
E num tempo em que não nasceste.
Eu sei que vem de um amor absurdo,
Sempre, tudo o que vou amar.
E sei que tudo que amarei
Será apenas a tua ausência,
A tua existência distante,
Essa tua vontade hesitante,
O ínfimo de tua essência.
E se em mim tudo é realidade,
Se tudo é de pedra, de verdade,
E se tudo é pura consistência,
Em ti tudo de mim vai ser
Essa mera inexistência.