Fotografia de © Ana Ferreira
“Todo ofício é um benefício”
(Tião Paineira)
O oleiro Tião Paineira é uma das principais referências em artesanato na cidade de Tiradentes (Minas Gerais – Brasil). Com mais de 80 anos, o senhor Tião produz peças de barro desde criança. Integra a quarta geração de oleiros e ensinou a profissão a um dos seus nove filhos. Além de oleiro, é um exímio contador de “causos” e tive o prazer de passar um bom par de horas ouvindo algumas histórias da sua vida.
Ao vê-lo pela primeira vez, admirei de imediato a sua beleza interior esculpida nas rugas que ao longo dos anos abriram caminhos pelo seu rosto, testemunhas vivas de uma vida que não foi fácil. Admirei também as mãos calejadas, pelo tempo e pelo barro. Gostei da prosa, lapidada na boca que, em tom grave, mas sereno e brincalhão, ele lança a quem estiver disposto a escutá-lo. Ouvi e guardei na memória e no papel alguns dos seus “causos”, contados em palavras simples, às quais empresta a melodia da sua voz, entregando-se às lembranças com ternura e sorrisos contagiantes.
É um homem de outro tempo, de outro mundo, alheio a modernidades e luxos, e raramente sai de casa. Observa a vida e o mundo com a singeleza e a sabedoria que só os anos conseguem dar a pessoas especiais como ele. Ao seu lado não sentimos passar as horas, mas as horas sabem da emoção que sentimos ao seu lado.
As mãos ainda possuem precisão de artista e do barro, colocado sobre o torno manual, cria fantásticas formas, enquanto os pés dão velocidade ao girar constante do torno. São quentes as mãos que moldam a matéria fria, transformando-a em arte.
E assim a obra nasce... Como estas peças de barro nasceram das mãos do senhor Tião Paineira. Simples, mas únicas, testemunhando a beleza interior do homem e do artista.
BELEZA INTERIOR
Calejadas pela arte,
delicadamente,
as mãos rudes do artista,
transportam
sua beleza interior,
para os olhares
ao seu redor,
silenciosamente...
Ana Flor do Lácio
Calejadas pela arte,
delicadamente,
as mãos rudes do artista,
transportam
sua beleza interior,
para os olhares
ao seu redor,
silenciosamente...
Ana Flor do Lácio