Costurando palavras
Vem, ó noite, e apaga-me, vem e afoga-me em ti.
Ó carinhosa do Além, senhora do luto infinito,
Mágoa externa da Terra, choro silencioso do Mundo.
Fernando Pessoa
Costurando palavras
O poder das palavras
Tem poderes maiores
Que tristeza de olhos perdidos na escuridão...
Costurando palavras
Alinhavo letras
Como se fizesse roupa nova
Como se costura ferida aberta
Feita com afiada lâmina de afiada faca.
Sinto dor com rejeição.
Com pessoas que cospem
No prato que comeram...
Com o breu que causam n'alma.
Com a fome, a seca e falta d'água.
Com o passar dos sonhos...
A angústia súbita dos dias.
Pessoas que estão sempre no pódio...
Que nunca cometeram deslizes,
Que nunca pensaram em suicídio.
Que não sofreram porque nunca amaram.
Os fracassados por natureza.
Os dissimulados, os que gritam vitória,
Até mesmo quando são os últimos a chegarem...
Estão sempre atrasados em tudo.
São confusos, difusos e pessimistas,
Os vingativos que são os viúvos do mundo,
Além dos hipócritas que são o luto da vida.
E a imaginação é fértil quando imaginam que tem força para puxar tapetes, vermelhos tapetes onde andam os verdadeiros filhos de Deus.
Para os contrastes gritantes dos seres, não tem antídoto, só veneno.
Por isso morrem de morte súbita, engasgados pela própria maldita saliva.
Palavras tem nó, eu os amarro em cadeiras, outros ao pé da cama
Coloco coroa de espinhos em suas cabeças...
Sem esboçar um único eco da minha garganta,
Gargalho que canta e canta e canta...
Enquanto eles choram nos porões vazios da solidão...
Andam na contramão da vida e não tem certeza de nada.
Levaram meus desejos,
Carregaram os beijos,
Que gostaria de ter dado...
O amor que neguei por medo,
Quando deveria ter morrido num abraço.
"Minha culpa, minha máxima culpa"!...
Multiplico-me para sentir tudo, de todos os ângulos e lados
O horizonte aberto, o horizonte fechado,
De baixo, de cima, alado.
A ausência do amor, a presença da dor...
Até a exaustão do além d'alma.
Navios navegando sem oceanos
Danos causados pelas léguas das mágoas.
Tudo é difuso quando lembranças vem à tona,
Feito torneira pingando fio a fio gotas d'água...
Feito marés rasas,
E orquestra sem sinfonia...
Costuro a dor com o sangue das canções!
E respiro com pulmões emprestados por Deus...
Sou tantos Eus que nem sei quem sou
E queria ser pedra pra não sentir dor.
Encosta para repousar meus cansaços,
Maré em calmaria quando me sinto cão raivoso...
E perco a leveza que habita em mim
Quase chego ao fim do abismo...
Pulo precipícios e vou ao chão
Depois de resvalar em mim mesmo.
Nessa expurgação vou aos céus e aos infernos em frações de segundos...
Me sinto saco vazio, sem fundo e ao mesmo tempo cheio de pedras,
Que carrego nos ombros d'alma.
Queria ser bicho selvagem e perder-me no trevo, esvair-me no nevoeiro Do esquecimento...
Ando por caminhos ermos, sentado em uma cadeira de balanço...
Me sinto além do Olimpo.
Parece que o espirito das palavras caíram sobre meus ombros,
Montado em um cavalo e atravesso o Arco do Triunfo
Aos gritos, aos berros, relinchando...
Ninguém me detém porque sou deuses nesse instante...
E faço prece,
E danço sobre nuvens,
Olhando o Universo sem estrelas
E muito menos luares.
Não sou chegado à melancolia...
Mas as vezes uma agonia habita meu corpo
E gosto desses momentos torpes,
Horas que uso a sabedoria do tempo vivido...
E me sinto afluentes de rios desaguando no azul do mar...
Tudo passará...
Afinal: Os dias são feito Pássaros
Que sobrevoam sem deixar rastro...
Escrevo nas páginas do Livro da vida, umas horinhas da minha história...
As vezes, Sou auto-biográfico, quando escrevo.
Não choro. Só de emoção!!!...
Tenho tantos corações, por isso sofro...
Mas ninguém morre de sofreguidão,
O sofrimento engrandece
É o tapete onde florescem as ilusões...
Enfim, é chegada a hora do desprendimento
Vou dormir...
Amanhã é outro dia
E o Sol com seus raios
Renascerá todas as flores dos meus Céus,
Que hoje estão murchas em meu jardim de estrelas...
Tony Bahi@.