NOITE ADENTRO
o que fazes desperto a esta hora?
queres ver o desabrochar da aurora?
ou, saudoso daquela que se ausenta,
sucumbe à aflição que nada apascenta?
digo-lhe, nobre homem
das coisas que vos consomem
esta talvez seja a mais feroz
chega, pero não se vê;
sussura e não tem voz...
quem dera houvesse apenas um nome
dor, solidão, frio, fome...
mas não, chega incógnita e certeira
lufada polar; poderosa fogueira...
o que fazes de ti escravo do próprio leito?
vejo-te desperto porém atado pelo peito,
aos pés de um sonho natimorto de paixão,
um sonho não vingado de querer e ser querido então.
digo-lhe, jovem senhor,
de tudo o que se chama amor
este talvez seja o mais cruel,
o fino brocado tecido no Hades
mas condenado à retalho pelos anjos do céu.
quem dera houvesse apenas um nome
dor, solidão, frio, fome...
mas não, chega incógnita e certeira
lufada polar; poderosa fogueira...