TRAGÉDIA
Luciana Carrero
No coração é noite
A fala não encontra
- a voz –
e tonta gagueja gemidos
entre nós
tartamudos de mágoas
desolados banhados
em pesadas águas
imundas
de ex-sentimentos
O sangue bombeado
não irriga os pés
do paralítico amor
- Nem mesmo um afago
consolo
Crispadas mãos
que aterrorizam a despedida
- Nem mesmo um derradeiro beijo
nenhum sentimento nobre
para segurar alças
da morte que advém
Um raio corta-nos
em duas metades-alma
- agora –
A desgraça enegrece a visão
A Lua é nada
O Poema fenece
A tempestade desaba
E a voz vamos buscar
no inferno da noite atroz
agora que somos metades
do todo que éramos nós.