Silenciou o silêncio no verbo rouco

Silenciou o espanto

num grito mudo que não era verbo, não era flor,

flor do sal

flor da pele

não era dor, nem mágoa, nem alegria ou contentamento …

Espanto apenas, esvaziado em metástases de nada…

Silenciou o espanto na agonia lenta.

Agonizou em anisotropia, em gélida hipotermia.

Rebuscou-se na busca de miraculosa alquimia

capaz de transformar a perpétua noite, em permanente dia!

(Não havia, ela não sabia!!!)

Buscou-se na magia caldeada em (pro)fusões antigas

d’ervas daninhas, dionisíaco-sacras,

em ervas taludas ou finas,

recolhidas no azimute de nenhum lado,

num local determinado p’la rosa-dos-ventos.

Na encruzilhada de milenares estradas. Emboscadas!

Ventou por dentro! Em desalento.

Foi sementeira, espiga madura, fruta madura…

Foi original semente, fruta emergente …

Foi rio, foz e corrente.

Foi água escorrente, nuvem subida e de novo

gota escorrida. Alimento de animal sedento.

Foi Vento! Ventania … Brisa corredia…

Ofegou por dentro! Em esmorecimento …

Silenciou o silêncio no verbo rouco,

num frio polar, para além de morto.

Resfriou por dentro! No entorpecimento!

Silenciou-se por fim, no deslumbramento selvático,

de ser cais e barco

ao mesmo tempo. Num só tempo! Num só espaço!

Contra todas as físicas leis!

E, numa volta de mar, num ocaso branco,

silenciou-se no espanto

de se espantar de si, mulher, e de por fim, ousar se enfrentar!

Volatilizou-se! Não existe mais…

Atomizada, apenas atónita partícula, povoa o ar!

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 22/04/2007
Código do texto: T459506
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