ILUSÕES NECESSÁRIAS




A trava na fala,
A mudez na alma,
O entrave no olhar,
A amargura no coração,
Reclamos do corpo.


Haverá, afinal, um amanhã?
A dor sem dor do depois?
Atracaremos num porto seguro,
Mar sempre claro, brisa leve,
Andorinhas a chilrar?


Pisaremos um jardim florido,
Toalha de piquenique sobre a relva,
Nuvens róseas e semoventes,
Inesperado arco-íris no horizonte,
Um regato pertinho a murmurejar?


Por sedex virá um presente,
Um coração em cristal, pulsante?

Um mapa-múndi de vidro jateado,
Mimo lindo do poeta que se foi?


Uma rosa nunca antes vista,
Que ganhou nosso nome?


Uma chave mágica
Que desvele segredos?


A palavra de um amigo,
Tão amigo que nunca nos falte?

O postal de uma praia:
"Eu te amo! Saudades."


?   ?   ? ...


Enquanto o pensamento zanza
        [alta madrugada,
            notícias ruins na tevê,
                violência de todo tipo,
                   novo dia de miséria,
                       grande incêndio na cidade,
                           insatisfações à vista,
                                 o desencontro das pessoas...]
Elaboro paraísos,
Utopias profiláticas,
Embriago-me de palavras quase extintas
E construo um relicário poético...
Uma vitrina para que os olhos,
Desarmados, possam sorrir.



Há que se ter fantasia
Na vida e na poesia.
O cotidiano fere.
A realidade insulta.
Os dentes não quero ranger
Nem quero partir antes da hora H.
Escrevo.



KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 30/11/2013
Reeditado em 19/12/2014
Código do texto: T4592586
Classificação de conteúdo: seguro
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