Silêncio
E ali estávamos nós.
Sentados de frente um para o outro sem nada dizer, em um silêncio repleto de coisas que já haviam sido ditas um milhão de vezes. Os olhos cheios de mágoas acumuladas. Os corpos tensos denunciando a espera das diversas acusações outrora trocadas. O ar estava pesado de melancolia.
Na mesinha ao centro um cinzeiro cheio de pontas, em seus dedos um cigarro pela metade, queima esquecido.
Um cheiro de fracasso.
Um gosto de derrota.
Se eu olhar agora bem no fundo dos seus olhos sei que ainda poderei ver rascunhos dos tantos planos que fizemos juntos.
Se forçar um pouco os ouvidos poderei ouvir nitidamente o som cristalino das tantas risadas que demos.
Mas não preciso olhar em seus olhos ou forçar os ouvidos para recordar as várias vezes que nos decepcionamos mutuamente. Das muitas lágrimas que chorei, das muitas portas batidas, dos gritos de acusações trocados, do sofrimento...
Suspiro!
Posso sentir daqui o esforço que você faz para se levantar e sair de uma vez. Mas não consegue e continua sentado, olhar perdido...
O cigarro em seus dedos já se queimou até o fim.
Nós dois sabemos que quando nos levantarmos daqui tudo será diferente e temos medo. Então covardemente deixamos que o silêncio continue repetindo tudo aquilo que já não adianta mais dizer.