SAUNA 


Campo Belo era o bairro.
Na minha rua, ainda sem asfalto, 
Os eucaliptos do Jardim das Hortênsias,
Residência em estilo vitoriano,
Perfumavam as manhãs juvenis.
Casca arruivascada, tantos!, 
Dispersavam essência curativa
Entre o nevoeiro paulistano.
Anos sessentas.           

No verdeal da minha memória
Repouso nessas lembranças:
O aroma das folhas dos eucaliptos!

Desprendo-me do instante vivo,
Entro numa sauna particular,
Invisível, 
Úmida e olorosa...
Suo problemas, irritações, estricção,
Abandono, desamor, mágoas.
Suo o tempo e as idades.
Suo por todos os poros!
Revigoro-me. 
Expectoro tudo.
Depuro-me.


Respiro, fundo e largo,
             Pulmões livres e limpos,
             Ainda que com a alma não de todo lavada!
 




foto: Luis Amado Rego



Nota:  a forma "anos sessentas"  é ponto de  divergência entre os gramáticos. 
É defendida por Cegalla, Sacconi, J. Machado e V. Bergo, entre outros.
KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 21/04/2007
Reeditado em 08/03/2010
Código do texto: T458930
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