SAUNA
Campo Belo era o bairro.
Na minha rua, ainda sem asfalto,
Os eucaliptos do Jardim das Hortênsias,
Residência em estilo vitoriano,
Perfumavam as manhãs juvenis.
Casca arruivascada, tantos!,
Dispersavam essência curativa
Entre o nevoeiro paulistano.
Anos sessentas.
No verdeal da minha memória
Repouso nessas lembranças:
O aroma das folhas dos eucaliptos!
Desprendo-me do instante vivo,
Entro numa sauna particular,
Invisível,
Úmida e olorosa...
Suo problemas, irritações, estricção,
Abandono, desamor, mágoas.
Suo o tempo e as idades.
Suo por todos os poros!
Revigoro-me.
Expectoro tudo.
Depuro-me.
Respiro, fundo e largo,
Pulmões livres e limpos,
Ainda que com a alma não de todo lavada!
foto: Luis Amado Rego
Nota: a forma "anos sessentas" é ponto de divergência entre os gramáticos.
É defendida por Cegalla, Sacconi, J. Machado e V. Bergo, entre outros.