Grito Mudo
Surdos sons assombrando meus mundos de imagens sem cores,
universos soltos de mim, manifestando-se nos gritos mudos que calei,
ecos do que fui em prismas que sonhei.
Acoimaram-me com olhares sem vida, corpos funestos, assustadores,
implacáveis no tempo que tatua suas mágoas nos invólucros antes perfeitos,
sonhos desvanecendo em fumaças tragadas por céus desfeitos.
Grita muda a voz da alma que se entrega aos abismos.
Embriaga-se de mim a vida antes contida nos sepulcros por dores alimentados.
Desnuda-me ante a terra que tudo recria, inseri seu julgamento,
ré sem destino, lanço-me em vertentes de incessante lamento.
Lágrimas em mares de ventos que sopram afoitos, desmanchando-se no próprio sopro,
Seguem seu curso alimentando a terra em seu veio de sangue.
Afrontam-se as faces no conhecimento absorto do tempo distante.
Sondam-me espectros do que fui, em cárceres das dores que sofro,
Atados os pés, prendem-me em raízes de terras errantes,
Solo sem vida, desfaz-me de minhas origens em atos retirantes.
Não é o nada a ausência do que sou no espaço que a mim se destinou...