Ah, o amor...
Quero-te como a areia se encharca de mar...
como a terra sedenta e frouxa
embaraça as águas da chuva
somos cães lambidos de tempo uivante de esquinas
somos também esses cães sem plumas
embarcações que afundam e rasgam mares
corre teu barco à superfície do oceano pardo
é... azul-prata a luz na sombra
da lua nova disfarçada de navio e corre
rindo rente ao horizonte
quase morre, coisa nuvem minguante
sem saber onde vai dar
com essa bússola ao norte
São pássaros dentro de mim tuas palavras
são asas que farfalham dentro da noite afagos valentes
voam teus pássaros na rosa dos meus ventos
dentro do halo, dos vales, continentes
teu outono cria asas das folhas amarelecidas
ainda arde no silêncio a doce flama do teu ser em mim
essa coisa rota, incomunicável e antiga
és magma a deslizar carícias em minhas terras caquéticas
acalento - morna ternura fragmentada e conjugada no tempo?
Corre às águas frenéticas, profusas ou às areias profundas das águas?
Quando brotam as flores e acordam todos os peixes
todos os pássaros de todas cores em revoada
piam já no ninho da madrugada
prenunciando a estação dos frutos,
Na envergadura da pétala mal aberta, esse bem fazejo
Que a manhã implora
Parece a vida pára
É a arte a estancar a dor?
É o amor a contrariar a morte?
Ah, o amor... você o amor!
Que sorte.