EX-TÉTICA*

Busquei enfim entender

com olhos de cientista

por que a beleza do ser

desenrosca-se das vistas?

Responderam bem assim,

de um jeito diferente:

A beleza é sempre o fim,

não é coisa e nem se sente.

Eu, confuso, repliquei:

A beleza vive onde?

Nesse mundo que toquei,

ou em outro ela se esconde?

"Vive o mundo percebido,

vive o mundo mais secreto,

quando pensa ter sentido,

a beleza rouba o veto...

Pois que antes de ser belo,

o possível à beleza

já preparava o martelo

pra matriz da natureza.

Antes mesmo da constante

que na Grécia dizem phi,

a natura alvoroçante

marchetava além daqui.

Pois a lei não é expressa

pela letra que se indica,

se a norma é dada a pressa,

o espírito vivifica."

De duas belezas, minhalma,

sentira depois, bem confusa:

A que transcende na calma,

e a que me trazem as Musas.

Da primeira sei bem pouco,

e jamais eu saberei.

A segunda torna louco

quem a faz de sua lei.

A primeira é coisa séria,

problema do mais profundo,

é causa até da miséria

de misturar forma e fundo.

A segunda é carnaval,

ciência do mundo sensível;

Há quem confunda, afinal,

sentir com inconcebível?

Assim fico da beleza,

sem resposta, isso é certo,

se o que sinto é a certeza

ou se Deus é mais esperto**...

* Mote: Platão, A República, 529 d - 530 d.

** "Deus é esperto, mas não é malicioso" - Albert Einstein.