Dei de escutar os silêncios...
Tenho cravado em mim
um canteiro de pedras…
Teimosas mudas de rosas
carmim brotam das fendas;
nascem para mostrar-me
o milagre da primavera!
Eu, que aprendi a cultivar
os absurdos; não alarmo
que das minhas margens
surjam um manso riacho
com garças pelos seixos…
Que lavem minhas culpas!
Com a noite dei de escutar
os silêncios; o vento sabe
contar histórias do ontem:
basta ter ouvidos de calma,
basta saber que não é tarde
e ter fantasias de inocência!
O que me dá medo na alma
é o abandono das palavras;
pois, com elas sei inventar
um mundo que me bastaria.
Sem, seria mudo de poesia,
sem fala, gestos e sorrisos!
Tenho um sonho extraviado,
carregado de floreios doces,
perdeu-se na noite. Sem rumo
partiu inventando caminhos…
Agora estou livre: vegetando
abarrotado de nadas e vazios!