CREPUSCULÁRIO

O crepusculário nas Missões

é um rondó

ao som do vento e das chuvas.

Campos dobrados são seios túmidos

deitados sobre si mesmos,

ventres grávidos de trigo,

esperanças de boa safra.

A cabeleira loira cuida dos cachos

pra noite que vem dormir.

O travesseiro de vento

é a mata ciliar do Ijuí-Guaçu.

Mergulho nas lágrimas

dançantes no leito do rio.

Tantas cruzes nestas ancestrais trilhas!

Sob as bênçãos da Cruz Missioneira

talvez tenhamos de amanhecer

de mãos postas.

Nos galhos dos sarandis

balançando,

há três séculos,

sussurra o choro do povo Guarani.

– Do livro OVO DE COLOMBO. Porto Alegre: Alcance, 2005, p. 81.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/45790