1983 – REFLEXÕES DE UM POETA PROVINCIANO
Toni Carré
Não tenho curiosidade geográfica
Meu mundo é pequeno
do tamanho de uma pulga infantil
Não preciso conhecer nada mais
além do universo da minha poesia
Não sou homossexual nem homo-politicus
Sou homo-poeticus, sucessor do sapiens
Seguindo a linha Nabokov, que desconsiderava
Lawrense, Faulkner, Camus
e não tinha opinião sobre Dickens,
Balzac e outros, o mundo é do tamanho da telinha
da minha tevê de quatorze polegadas
onde vejo Pavarotti, Carreras e Plácido Domingo
numa madrugada de domingo
e surge o belíssimo espécime
do homem que soube envelhecer: Sinatra
A folha de São Paulo me informa tudo
e sou feliz no meu pequeno mundo
neste ano da graça de oitenta e três
Olho o mapa do Brasil e me pergunto:
Será o nosso território assim,
assim tão esteticamente lindo
como Sinatra e Vera Fischer?
Ou nosso Brasil gráfico representado
é obra de um artista inspirado
para símbolo, como a bandeira e o hino?
Mas fico com a poesia e a inspiração
deste formato brasileiro e me abstraio
Para mim tudo é abstração
até a vida. Até a morte
Tenho medo de envelhecer
e tenho medo de morrer jovem
O que faço, Vera Fischer, Sinatra, Nabokov
- Espere. (responderam eles, em coro)
Algo novo vai acontecer
e aconteceu: 30 anos depois estou jovem
não morri, mudei de sexo e de nome
e já fazem tantos anos que viajo
pelo mundo numa nova telinha
e sou feliz nos amados braços
desta maravilha chamada Internet
Corre o ano de 2013, já vai pular para 14
Me dão licença, vou postar poemas
para meus amigos do Facebook
em www.facebook.com/planetadapoesia
Do livro inédito: Do Outro lado do Poema