Adornando palavras...
“A poesia é uma pintura que se move e uma música que pensa.” Deschamps, Eustache
Eu tão suave tenho estado
que clássicos acordes surgem de mim...
O que Deus não tem sabido
é que um anjo caiu do céu...
E, tão humano, anda pela terra
brincando de ser gente comum,
disfarçando suas asas angelicais.
Eu tão suave tenho estado
que clássicos acordes surgem de mim...
O que eu não consigo esconder
é a fome que eu tenho de vida...
Eu tento compor meus poemas,
mesmo não tendo nata aptidão.
Vez ou outra, é que um se salva.
Eu tão suave tenho estado
que clássicos acordes surgem de mim...
Na minha mão a palavra se eterniza:
ganha formato, força, rosto e raiz...
Ganha até cidadania a minha frase.
E, se tem brilho, anseio e história,
vira tela e fica afixada na parede!
Eu tão suave tenho estado
que clássicos acordes surgem de mim...
Os vocábulos me ensinaram a voar.
Desço surfando na seiva das veias...
Quem sabe à mão pintar palavras,
faz sua própria e singular aquarela.
Voa livre nas asas dos passarinhos!
Eu tão suave tenho estado
que clássicos acordes surgem de mim.