O ESTRÁBICO NÉON DA NOITE

(No Estaleiro Bar, que é onde a gente aporta o barco

pra consertar os estragos do dia)

Tudo é solidão na longa tarde

de viagens e esperas.

E, como um cipó de lembranças,

novamente a poesia na corola

dos girassóis,

seus imensos olhos na cara cheia,

verdes olheiras despertas do medo

do escuro,

e o sorriso amarelo de luz.

Pra quem quer viver, resta esperar a noite:

estrelas de cuba libre,

bandoneon dolente de champanha,

estrelas no céu da boca.

A Poesia pisca e pisca.

Rabisca no estrábico néon da noite.

À nossa frente,

salamandras nos rituais do fogo,

cortejadas pelos olhos de todos.

Misteriosas labaredas dançantes.

Aceso pavio de brincar o tempo,

puindo suas rotas amarras.

Do livro OVO DE COLOMBO. Porto Alegre, Alcance, 2005, p. 88.