Pão Amanhecido
Amanheceu, mas na cabeça o jugo do espaço
entre as estrelas já tão invisíveis, plausíveis;
entre os jardins que se demoram muito
para brotar a essência desse vime, que colho.
Amanheceu, mas na janela o sol não percebeu
entre as cortinas dos meus pensamentos, profundos;
entre o silêncio que se demorou muito
para reinar no corpo-mente-espírito do Eu.
Amanheceu, mas no olhar a noite é eterna
entre outras almas em si mergulhada, calada;
entre o vestígio que se demora muito
para deixar seu rastro ininterrupto.
Amanheceu, mas o canto é pelos pássaros
entre as folhagens da jabuticabeira, madeira;
entre outros galhos que se demoram muito
para comporem as novas sinfonias, vazias.
Amanheceu, mas o verso agora é a poesia
entre as viagens dos meus devaneios, distantes;
entre outras rimas que se demoram muito
para satisfazerem por entre as estrofes cortantes.
Amanheceu... E a ventania carregou o meu chapéu.
Amanheceu... E é o velho pão nosso de cada dia.