Quando eu morrer

Quando eu morrer

quero o céu nesse mesmo tom azul,

sem nuvens, talvez uma ou outra vadia nuvem

que só vem para se despedir

desse corpo que pertence a esse lugar

assim, dessa mesma forma que está agora,

mas que não seja ainda hoje.

Quando eu morrer

quero que seja nessa cidade de Sebastião

com suas montanhas, sua gente, seus livros,

suas feiras, suas rodas, suas vias, sua arte,

suas roupas, suas pernas fatigadas e olhos lacrimejantes

assim, dessa mesma forma que está agora,

mas que não seja ainda hoje.

Quando eu morrer

quero minha amada ao meu lado

tocando meu rosto com ternura

relembrando os vários momentos que

deverão me seguir na eternidade,

assim, dessa mesma forma que está agora,

mas que não seja ainda hoje.

Quando eu morrer

quero os olhos de minha filha

dentro de meus olhos e

contemplar sua juventude, sua coragem

e sua esperança que já fora minha,

assim, dessa mesma forma que está agora,

mas que não seja ainda hoje.

Quando eu morrer

quero que toquem essa mesma sinfonia,

a número cinco em Dó menor, opus 67,

o andante con moto de Beethoven

que já servira de réquiem para muitos tolos

assim, dessa mesma forma que está agora,

mas que não seja ainda hoje.

Quando eu morrer

quero esse bando de pássaros

que voam rotineiramente pela minha janela

rumo à Baía, numa dança de sobrevivência

e que nesse momento eles apenas vão

e deixem a vinda para depois,

pois assim saberei, que enquanto não chegam,

eu ainda aqui estarei.

20.04.07

Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 20/04/2007
Reeditado em 15/04/2008
Código do texto: T457549
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