Quando eu morrer
Quando eu morrer
quero o céu nesse mesmo tom azul,
sem nuvens, talvez uma ou outra vadia nuvem
que só vem para se despedir
desse corpo que pertence a esse lugar
assim, dessa mesma forma que está agora,
mas que não seja ainda hoje.
Quando eu morrer
quero que seja nessa cidade de Sebastião
com suas montanhas, sua gente, seus livros,
suas feiras, suas rodas, suas vias, sua arte,
suas roupas, suas pernas fatigadas e olhos lacrimejantes
assim, dessa mesma forma que está agora,
mas que não seja ainda hoje.
Quando eu morrer
quero minha amada ao meu lado
tocando meu rosto com ternura
relembrando os vários momentos que
deverão me seguir na eternidade,
assim, dessa mesma forma que está agora,
mas que não seja ainda hoje.
Quando eu morrer
quero os olhos de minha filha
dentro de meus olhos e
contemplar sua juventude, sua coragem
e sua esperança que já fora minha,
assim, dessa mesma forma que está agora,
mas que não seja ainda hoje.
Quando eu morrer
quero que toquem essa mesma sinfonia,
a número cinco em Dó menor, opus 67,
o andante con moto de Beethoven
que já servira de réquiem para muitos tolos
assim, dessa mesma forma que está agora,
mas que não seja ainda hoje.
Quando eu morrer
quero esse bando de pássaros
que voam rotineiramente pela minha janela
rumo à Baía, numa dança de sobrevivência
e que nesse momento eles apenas vão
e deixem a vinda para depois,
pois assim saberei, que enquanto não chegam,
eu ainda aqui estarei.
20.04.07