Gotas opostas da goteira

Admirar uma formiga, um sapo

Uma borboleta e a chuva

Cuidar de vasos com flores

De repente entra no poema

Uma linda frase aos amores

Bom gosto no quintal

Sol à janela, sorvete e café

Por fora, a delícia das goteiras

Deslizando-se pela janela e parede

Um filme, um par de chinelos e uma rede

Mas os pingos quase invisíveis, dividem-se

Escorregando leves e bonitos

Delicados, molhando o telhado

Eles caem também no piso do humilde

Que mora distante, do outro lado

Seria bom a bondade agir

Substanciar e ser solidária sem exigir

Pra ver o anverso da acomodação

Daquela água que escorre longe da seca

Ela pode saciar a sede, também do Sertão

Shopping e vitrine não alimentam

Apenas aumentam o que já é caristia

Não tem apreço nem me conforta

Saber da gratuidade burguesa

Que já tem muito pão à mesa

O poderoso que foi eleito, não se importa

E todas as previsões são imprevistas

O ser humano não faz chuva

Está na sociedade fina, o consumo fino

Com satisfeitas gotas de sumo de uva

George Lemos
Enviado por George Lemos em 14/11/2013
Reeditado em 08/02/2014
Código do texto: T4569874
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