Gotas opostas da goteira
Admirar uma formiga, um sapo
Uma borboleta e a chuva
Cuidar de vasos com flores
De repente entra no poema
Uma linda frase aos amores
Bom gosto no quintal
Sol à janela, sorvete e café
Por fora, a delícia das goteiras
Deslizando-se pela janela e parede
Um filme, um par de chinelos e uma rede
Mas os pingos quase invisíveis, dividem-se
Escorregando leves e bonitos
Delicados, molhando o telhado
Eles caem também no piso do humilde
Que mora distante, do outro lado
Seria bom a bondade agir
Substanciar e ser solidária sem exigir
Pra ver o anverso da acomodação
Daquela água que escorre longe da seca
Ela pode saciar a sede, também do Sertão
Shopping e vitrine não alimentam
Apenas aumentam o que já é caristia
Não tem apreço nem me conforta
Saber da gratuidade burguesa
Que já tem muito pão à mesa
O poderoso que foi eleito, não se importa
E todas as previsões são imprevistas
O ser humano não faz chuva
Está na sociedade fina, o consumo fino
Com satisfeitas gotas de sumo de uva