Pacificação

Naquela noite a Lua sumiu feito pedreiro.

Não se via estrela, não soltaram foguete.

Ouviu-se sim certo barulho metálico-polvórico,

apesar do silêncio reinar entre os homens.

E reinava o silêncio entre os homens

na mais perfeita teocracia do século XXI.

Defendiam seus castelos, suas artilharias,

seus 141 cavalos e seus alvos desportivos.

Alvos rentáveis, alvos largos,

espremidos, justapostos, de cor e bem visíveis.

Por vezes forjados do mais nobre papelão.

Qualquer um sem muita instrução os acertava,

o colegial era mais que suficiente.

Aqui ó, chama gatilho. Sente.

Agora puxa.

Isso.

Esse líquido nojento é sinal que você fez certo.

Agora limpa.

Isso.

Tá vendo? Não precisava nem ir pra escola.

Agora vem com a gente ouvir o silêncio dessa noite linda.

Ih...

Mas que merda, ein?

Tá ouvindo?

Tem alguém chorando lá em cima.

Fernando de Sá
Enviado por Fernando de Sá em 12/11/2013
Reeditado em 14/11/2013
Código do texto: T4568230
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