Pacificação
Naquela noite a Lua sumiu feito pedreiro.
Não se via estrela, não soltaram foguete.
Ouviu-se sim certo barulho metálico-polvórico,
apesar do silêncio reinar entre os homens.
E reinava o silêncio entre os homens
na mais perfeita teocracia do século XXI.
Defendiam seus castelos, suas artilharias,
seus 141 cavalos e seus alvos desportivos.
Alvos rentáveis, alvos largos,
espremidos, justapostos, de cor e bem visíveis.
Por vezes forjados do mais nobre papelão.
Qualquer um sem muita instrução os acertava,
o colegial era mais que suficiente.
Aqui ó, chama gatilho. Sente.
Agora puxa.
Isso.
Esse líquido nojento é sinal que você fez certo.
Agora limpa.
Isso.
Tá vendo? Não precisava nem ir pra escola.
Agora vem com a gente ouvir o silêncio dessa noite linda.
Ih...
Mas que merda, ein?
Tá ouvindo?
Tem alguém chorando lá em cima.