Meu tempo
Meu tempo é todo de verso
Que me invade e se estrofa
Faz-se rima que se afirma
Faz meu eu virar do avesso.
Meu tempo é faca que passa
Corta-me a língua e as veias
Faz jorrar por poros, fora,
O que, lá dentro, aperreia.
Meu tempo é cisco do mundo
Algo sem voz, quase mudo
Algoz de mim se o enfrento
Atroz prá mim, sem alento.
Meu tempo roda seus ciclos
Sem querer saber de fins
Enfrentam-se ali nãos e sins
Que em talvezes reciclo.
Meu tempo é vinho e vinagre
Baga de sumo agridoce
Que a boca sorve e entorpece
No aguardo do milagre.
Meu tempo, enfim, já faz tempo
Canta cantigas ao vento
E espera as respostas todas
Que a vida, a tempo, dê tento.