Alvorecer da Saudade
Encapela-se o olhar
Nas pálpebras que anunciam
O ondear do brilho da manhã
Há um silêncio de maré cheia
Transbordando na memória
Mar aberto de lembranças
Desaguando ante meus olhos
São tantas as cores do alvorecer
Quando desdobro os sentidos
E todos os gestos resignificam-se
O meneio sedutor da cortina
Atraindo os meus olhares
Deixando-me antever uma nesga
Da paisagem intocada do novo dia
As buganvílias deitadas sob a brisa
Do dia que se descobre acordando
O sol despertando em chamas
Tingindo em carmim
O mar verde-esmeralda
No corpo desabitado
O suspiro das tuas mãos
A fresta da saudade
Tua presença vívida
Luzindo o aroma
Dos teus sussurros
Numa doce alusão
Ao que apenas se deseja
É imensa a manhã
Se me entrego ao recordar
E aveludada em permissão
Acetinada em concordância
Deixo-me ser inteira
Desvendando às tuas mãos
Os segredos, malícias e mistérios
Propositadamente vendados aos olhos meus
Fernanda Guimarães
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