O fruto do Furto

É sempre nessa lua o mesmo brilho

É sempre nessa orquestra o mesmo som

É sempre nessa mãe o mesmo filho

É sempre nesse artista o mesmo dom

É sempre nessa cor a mesma tinta

É sempre nessa fala a mesma voz

É sempre nessa moça a mesma pinta

É sempre nessa corda os mesmos nós

É sempre nessa noite a mesma lua

É sempre nessa chuva a mesma enchente

É sempre nessa estrada a mesma rua

É sempre nessa fronte a mesma frente

É sempre nesse arbusto o mesmo fruto

É sempre nessa prenhe o mesmo enjôo

É sempre nesse morto o mesmo luto

É sempre nessa ave o mesmo vôo

É sempre nesse filme o mesmo ator

É sempre nesse verso a mesma rima

É sempre nessa chaga a mesma dor

É sempre nesse frio o mesmo clima

É sempre nessa massa o mesmo pão

É sempre nessa alma o mesmo corpo

É sempre nesse solo o mesmo chão

É sempre nessa esquife o mesmo morto

É sempre nessa falta a mesma ausência

É sempre nessa foto a mesma imagem

É sempre nesse odor a mesma essência

É sempre nesse campo a mesma aragem

É sempre nesse fogo o mesmo quente

É sempre nessa mão os mesmos dedos

É sempre nessa urbe a mesma gente

É sempre nesse assombro o mesmo medo

É sempre nesse preto o mesmo escuro

É sempre nesse "yes" o mesmo sim

É sempre nesse marco o mesmo muro

É sempre nesse "The End" o mesmo fim.

Poema sobre um poema de Carlos Drummond de Andrade.

Bhall Marcos
Enviado por Bhall Marcos em 27/08/2005
Código do texto: T45642