Conversando com flores
Inspirado em "A ligação e o fim"
do poeta, Wotson de Assis
Conversando com flores
Não toca o telefone
Saio às ruas
E converso com flores...
A garganta exita em falar
O estômago sente fome
O intestino tem nome:
Evacuar...
O segundo cérebro do corpo
Também tem cheiro
Feito tudo que floresce
E nasce.
À natureza
Empresta
Cores
Enquanto arrepios
São penugens de açoites
Dos fios dos cabelos
À ponta dos pés!
Não sou cavalo
Não me ponha rédeas
Tenho esporões
Sou galo.
Me debruço à margem
Dos igarapés
Calo.
Nas esquinas
Sangue, fações e punhais
Ungido por pedra, pétala e flor
Protegido por ritos e rituais...
Basta ter olhos para ver
Mesmo no olhar
Sem olhos, sem olhar
De cegos que enxergam
Muito mais, muito além de nós
Feito embarcações no cais
Dormindo sem nó
No vai e vem das marés
E só...
Os distraídos
Os absorvidos
Pelos seus próprios problemas
Estão na solidão
Em seus arranha-céus, de si
Em arranhões, só seus...
Cadê o próximo, pergunto:
Esqueci!...Cadê?
Em torre de marfim
São infelizes
Coitados!
Não olham pela vidraça...
Para ouvir a Cacatua
Preferem ser pedra
Cacos
Cactos
Flor murcha
Morta e nua
O perfume
Não sente ciúme
Nem usa garras
Por não ter podido
Enxergar
Senão estaria fudido
Pelas vozes
Algozes
Que ainda estão por vir
E plainam no ar...
O ar penetra no ser
N'alma do ar que respiro
Que pareço sair de mim...
Esvair-me
Esquecer-me
Evaporar.
Tony Bahi@