Conversando com flores

Inspirado em "A ligação e o fim"

do poeta, Wotson de Assis

Conversando com flores

Não toca o telefone

Saio às ruas

E converso com flores...

A garganta exita em falar

O estômago sente fome

O intestino tem nome:

Evacuar...

O segundo cérebro do corpo

Também tem cheiro

Feito tudo que floresce

E nasce.

À natureza

Empresta

Cores

Enquanto arrepios

São penugens de açoites

Dos fios dos cabelos

À ponta dos pés!

Não sou cavalo

Não me ponha rédeas

Tenho esporões

Sou galo.

Me debruço à margem

Dos igarapés

Calo.

Nas esquinas

Sangue, fações e punhais

Ungido por pedra, pétala e flor

Protegido por ritos e rituais...

Basta ter olhos para ver

Mesmo no olhar

Sem olhos, sem olhar

De cegos que enxergam

Muito mais, muito além de nós

Feito embarcações no cais

Dormindo sem nó

No vai e vem das marés

E só...

Os distraídos

Os absorvidos

Pelos seus próprios problemas

Estão na solidão

Em seus arranha-céus, de si

Em arranhões, só seus...

Cadê o próximo, pergunto:

Esqueci!...Cadê?

Em torre de marfim

São infelizes

Coitados!

Não olham pela vidraça...

Para ouvir a Cacatua

Preferem ser pedra

Cacos

Cactos

Flor murcha

Morta e nua

O perfume

Não sente ciúme

Nem usa garras

Por não ter podido

Enxergar

Senão estaria fudido

Pelas vozes

Algozes

Que ainda estão por vir

E plainam no ar...

O ar penetra no ser

N'alma do ar que respiro

Que pareço sair de mim...

Esvair-me

Esquecer-me

Evaporar.

Tony Bahi@

Tony Bahia
Enviado por Tony Bahia em 09/11/2013
Reeditado em 09/11/2013
Código do texto: T4563779
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