Eu nunca quis morar nos meus vazios
Às vezes fico em silêncio
como se de silêncio fosse feita
Como se de sombra
sem qualquer intenção
... como se de nada !
como que usurpada...
Sento-me nessas minhas calçadas,
observo a vida
Ela passa ligeira
com olhos vorazes de alvorada
Não a julgo por não me ver
dentro dessas brumas de saudade
... Entendo que não tenha tempo a perder...
Entendo ela não me enxergar
às divisas de minhas misérias,
quando nem eu mesma encontro
os vestígios de quem já fui um dia...
Entendo ela me descartar
como folha morta,
como poesia torta,
por um sorriso ou dois;
pois o que mais me fere
não é o abandono
ou a solidão em minha cama;
é saber que quem me olha
enxerga alguém que já partiu...
... sei que algumas pessoas estão sempre felizes ( ou encenando )
estão sempre sorrindo ( ou alienando )
talvez sejam mais amadas por seus sorrisos,
talvez não tenham tempo para reentrâncias,
nem em seus quartos desaguem silêncios em rios
... mas sabe... eu nunca quis morar nos meus vazios...
Denise Matos