DORME POETA
Dorme poeta, que as palavras estão dormindo.
A força da tua respiração na virgem lauda não
despertarão do suave sono os doces vocábulos,
nem te fará mais completo uma noite em claro!
Dorme poeta, pois não haverá fuga dos verbos.
Amanhã te esperarão para poder voltar a viver;
que cada um venha a calhar na bonança de teus
versos; e hão de lhe ser fiel a cada nova poesia!
Dorme poeta, que não há vigarista que furte as
letras que a ti pertencem. Se hoje estão ariscas;
amanhã pousarão nos teus braços e te farão tão
poeta que teus passos serão melodia e acalanto!
Dorme poeta, que este poeminha de agora não
será nem sombra do poema de amanhã; aquele
não trará sobre os lombos a falta de inspiração,
nem no olhar o frio da noite, nem falta de voz!