Caos

Perco documentos no meio

Da minha pilha de emoções.

Não pago as contas em dia:

deixo para o banco essa fatia

do meu bolo de obrigações.

Por conta de minha memória

Que não é das mais exatas,

Esqueço-me de algumas datas,

Misturo uma ou outra história,

Cometo alguns deslizes,

Confundo rostos e nomes,

Cabelos e cicatrizes...

E nunca, nunca me acerto.

Vou chegando à conclusão

Que a vida é o imponderável,

Que o caos é inevitável

Para quem busca a paixão.

E paixão é mais que um vício:

Paixão é a própria vida.

A ordem é um artifício

Para nos dar a medida

De nosso poder e vontade;

Para nos dar a ilusão

De que estamos no comando

Quando somos, na verdade,

Folha solta sobre a onda,

Pluma na tempestade...