NÔMADE
Nômade! Nômade!
De escuridão em escuridão,
Desbravando a inspiração
Cega de um único brilho.
Despeja às paredes do tempo
Vozes agrupadas sem cordas,
Comanda vozeadas mil hordas
Que garantem um termo a ruir...
Se cantar, é uma escrita
De soprano fugaz,
Corre Jamais capaz
De adquirir um pensamento.
Se ouvir, é o grito da areia
Que irrompe sem cantos,
Arde no amargo pranto
Por jamais ver ou ser a luz...
Carente e na obscuridade
Vê um tédio brotar das
Mãos e dedos áridos, mas,
Alisa, com afinco, uma pena.
Morde, mesmo sem dentes,
Os frutos adstringentes,
Sem medo do pecado, sem medo
Da tempestade cantada na escuridão.
E seguiria a morder,
Bastava um beijo...
Vai ao deserto e beija o simum,
Pede um brilho à areia vertical,
Ou acomoda na posição fetal
E espera os olhos nascerem...
Na passagem tudo passa!
Contemplarás outro mundo,
Condado de cruzeiro rotundo
A não te crucificares...
Verás na luz: a imensa cidade;
As castidades; as catequeses;
Mudos falando teses
Aos surdos que não nascerão.
Ai riras impregnado da luz,
Ganhou o pensamento sem cruz.
Só não te esqueças andarilho:
Não mais cantará tua escrita.
Nem mesmo fugaz cantará;
Nem mesmo triste morrerás,
Nem teus versos morrerão,
Nem no seio de tua amada...
Sente o vento morno,
Já não há paredes no tempo;
Já não há talento;
Tudo aqui é razão...
Já não há maçã,
Só uvas e celibato;
E vinho doce de fato,
Que não gera a rebelião.
Não és mais o nômade
A traduzir o obscuro
Com o gozo sentenciado
À luz que só trazia a pena.