NÔMADE

Nômade! Nômade!

De escuridão em escuridão,

Desbravando a inspiração

Cega de um único brilho.

Despeja às paredes do tempo

Vozes agrupadas sem cordas,

Comanda vozeadas mil hordas

Que garantem um termo a ruir...

Se cantar, é uma escrita

De soprano fugaz,

Corre Jamais capaz

De adquirir um pensamento.

Se ouvir, é o grito da areia

Que irrompe sem cantos,

Arde no amargo pranto

Por jamais ver ou ser a luz...

Carente e na obscuridade

Vê um tédio brotar das

Mãos e dedos áridos, mas,

Alisa, com afinco, uma pena.

Morde, mesmo sem dentes,

Os frutos adstringentes,

Sem medo do pecado, sem medo

Da tempestade cantada na escuridão.

E seguiria a morder,

Bastava um beijo...

Vai ao deserto e beija o simum,

Pede um brilho à areia vertical,

Ou acomoda na posição fetal

E espera os olhos nascerem...

Na passagem tudo passa!

Contemplarás outro mundo,

Condado de cruzeiro rotundo

A não te crucificares...

Verás na luz: a imensa cidade;

As castidades; as catequeses;

Mudos falando teses

Aos surdos que não nascerão.

Ai riras impregnado da luz,

Ganhou o pensamento sem cruz.

Só não te esqueças andarilho:

Não mais cantará tua escrita.

Nem mesmo fugaz cantará;

Nem mesmo triste morrerás,

Nem teus versos morrerão,

Nem no seio de tua amada...

Sente o vento morno,

Já não há paredes no tempo;

Já não há talento;

Tudo aqui é razão...

Já não há maçã,

Só uvas e celibato;

E vinho doce de fato,

Que não gera a rebelião.

Não és mais o nômade

A traduzir o obscuro

Com o gozo sentenciado

À luz que só trazia a pena.

Adriano J Santos
Enviado por Adriano J Santos em 05/11/2013
Código do texto: T4557846
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