AUTO-RETRATO

Tenho um metro e setenta e três

de altura

e noventa e cinco quilos de

literatura.

Sinto-me como uma joia bruta,

primitiva, que o tempo está modelando.

A maturidade encontrou-me de repente

quando eu cruzei a esquina

tocando a Lira dos Quarenta Anos.

Não nasci para o comércio,

não sei comprar nem vender,

sei apenas fazer versos...

No meu primeiro livro:

"Um Juntador de Palavras",

ajuntei tantas palavras

que a poesia criou asas.

Não nego o meu amor

pela minha amada flor,

nem nego a minha fé

em Jesus de Nazaré.

Considero-me apenas

um cantador desentoado,

um repentista sem repente

e um sonetista desmetrificado.

Tenho um milhão de sonhos

no meu coração

que sonho um dia concretizá-los...

Por isso considero-me

um ser milionário.

E Já me acostumei

com minha careca...

Para os outros não,

mas para mim

rima com poeta!

Sei que minhas virtudes

sobre ponhem meus defeitos;

até porque há muito tempo

deixei de contá-los.

Tenho a cara séria

de delegado de polícia,

mas dentro de mim

esconde-se:

um palhaço,

um menino

e um poeta!