CENAS COTIDIANAS

A relatividade

é relativa,

o gatilho

dispara,

o sangue explode

e escorre pela calçada.

Ser bicha

ser puta,

marginal viciado

é uma opção.

Perdidos na noite

o fiel aprendiz,

faz do seu baseado

uma viagem sem volta.

Ser de repente,

um traficante,

ter nas mãos o poder

de matar tanta gente,

da lei do silêncio

ser o mandante.

O crime compensa,

a justiça colabora,

é essa a lei.

De arma na mão

eu faço e desfaço,

eu cobro e pago

por proteção.

Eu te assalto,

eu te sequestro,

você bom cidadão

é a bola da vez,

é nosso freguês

e financiador.

E quando me prendem,

atear fogo à cela

é minha diversão.

Clamo pelos direitos humanos

dos bons cidadãos,

de bons corações.

Eles acham que eu mereço

mais uma chance

porque fui marginalizado

pela sociedade.

Uma rebelião,

uma fuga em massa,

estou de volta às ruas.

Ontem estuprei uma menina,

quinze anos ela tinha,

era virgem ainda,

depois a matei.

Os bons cidadãos

dos direitos humanos,

apenas lamentaram

mais uma vítima.

Outra vez,

me libertaram

por que sou menor,

sou vítima também,

sou coitado,

mereço outra chance,

sou jovem ainda.

Livre!

assaltei,

estuprei,

e matei... outra vez!

Bons cidadãos

dos direitos humanos,

por favor,

eu mereço outra chance!

Mas desta vez,

sob o viaduto,

havia uma overdose

no meu caminho,

e as chances que me deram

a vida me negou.

A morte que espreitava

silenciosa,

veio me viu, me levou.

As bichas

as putas,

e os marginais viciados

apenas assistiram à morte me levar

sem compaixão e sem dor,

e meu lugar simplesmente

outro assumiu.

E outra menina

foi estuprada

e morta,

e outra, e outra,

mais outra,

outra ainda...