Sem a Memória das Razões
Ainda que muito me procure,
recolhendo ilusões a esmo,
receio que ainda dure
esta ausência de mim mesmo.
Reencontrar-me, urge, a qualquer dia,
pois foi por essa estrada, inóspita assim,
que meus pés desabitaram de alegria,
no caminho da busca por mim.
Mas, do espanto das mãos cheias de poesia,
nascem folhas, esvoaçando ideias loucas,
e os meus medos se calam para a fantasia
de não ouvir o murmúrio das sarcásticas bocas...
E me reencontro com meus inquietos bem-te-vis
- nos telhados do meu tempo, cantando desejos e paixões,
cegos e surdos a idades ou estados civis -
para caminhar sem a memória das razões...