Infância menina

Os cabelos livres,

como ela,

dançam

a coreografia proposta

pelos ventos, mas enfrentando-os,

na corrida com as colegas,

na brincadeira de pegar jacaré

nas ondas da praia do Farol,

nadando,

pulando,

mer

gu

lhan

do

nas açucaradas águas da Ilha.

O Sol em brasa

é testemunha

dessas ingênuas transgressões

de menina praieira

que vê a paisagem

explodir em cor e luz e vida,

sem culpar-se por sua infância feliz.

Sob o calor do causticante

sol de outubro,

sob o belo

branco luar

das noites equatoriais,

sob o cinza

chuviscadeiro

dos meses de fevereiro e março,

friozinhos,

sob as manhãs azuis

e as noites estreladas,

ouve de sua mãe Georgina

e de seu pai André

as lições de como ler bem

a cartilha do bom viver

e ouve ainda

as apavorantes

histórias de visagens

e de assombrações...

E era doce tarefa

ajudar a mãe e o pai:

ajudar na cozinha

descascando os camarões

com a mãe

para o cardápio do Hotel Farol,

ou jardinando com o pai,

cuidando dos quintais das vivendas

dos patrões,

ensombrados por frutíferos pés de planta.

E saborear as frutas de todos os quintais

dava sabor à própria vida...

O ir-e-vir rumo da escola

ou de casa

pela Beira-Mar

era uma aventura cotidiana

de quilômetros e quilômetros

de contentamento

naqueles idos tempos

de sonho de pequena aluna nota dez.

Suas infantis retinas

testemunharam pousos de pássaros de metal,

deslizando mansamente suas barrigas

na pele enrugada da maré de março

e vinda de dirigíveis trazendo oficiais americanos

para a diversão no Hotel.

Como era bom viver aqueles dias

na singela Cabana Ynday,

que Ruy Meira em pinceladas próprias

transformou em tela a óleo

de simplicidade singular.

E a menina vai diuturnamente

vencendo (ainda hoje) o vento contra

na força e na velocidade,

superando-o quando a favor,

seguindo vivendo bem vividos

estes dias idos do tempo

de seus verdes anos...