VISÃO DA VELHICE
Amador Filho.
Vejo as horas se arrastarem vazias e inúteis.
No caleidoscópio das descoloridas recordações.
Como temas sem nenhuma importância, fúteis.
Elas passam, atropelando as minhas emoções.
Passa minha família! Minhas lutas! Meus amores!
Ah! Os ideais que julguei eternamente sagrados,
Minha infância, juventude e meus gratos valores,
Vão ficando para trás, completamente apagados.
Tudo passa oh Senhor! Na mais fria indiferença,
Na mais desumana e mais aterradora crueldade,
Perturbando até a potencialidade da minha crença,
Deixando-me somente uma plangente saudade!
A inatividade, as dores físicas, a ausência de carinho,
O velho é um obstáculo que atrapalha outros objetivos,
Que vive a chorar as muitas dores do seu caminho,
Sem consolos, sem agrados e também sem lenitivos.
Mil vezes a morte, libertadora suprema do sofrimento,
Que na sepultura, rompe os grilhões da matéria humana,
E nos oferece a alvorada do esplendoroso discernimento,
Conduzindo-nos para a inquestionável vida soberana!
Santa Luz, 30 de outubro de 2013.