Desapego


Na finitude deste tempo em que vivemos,
Julgando que, para nós, ele será infinito,
Somos meros passageiros no trem da vida,
Supondo que construímos o que seremos,
Não nos permitindo ser, contendo o grito,
Sempre empenhados em nossa própria lida.

Deveríamos sim permitir-nos soltar, entregar
Nosso próprio destino à Mãe Vida, soberana,
Deixarmo-nos simplesmente ir e deixar fluir,
Vivendo cada instante do presente, a passar
Por nós como a água de um rio que emana
Por sob a ponte, no eterno ciclo de ir e vir.

Desta vida nada levaremos, tenha a certeza,
E partiremos da mesma forma como chegamos,
Sem bens, sem posses, sem nada mesmo de seu.
E quando chegar este momento de incerteza
Somente restarão as lembranças que cultivamos,
Efêmeras flores incontidas em seus gineceus.

Não se pode perder o que nunca possuímos,
Tudo que temos nos foi pela vida emprestado,
Para que o cultivássemos por tempo finito,
Preservando para o futuro, em nossos imos,
Por tempo restrito ao nosso próprio limitado,
Que cessará, em desapego, além do infinito.
LHMignone
Enviado por LHMignone em 30/10/2013
Reeditado em 26/05/2014
Código do texto: T4548866
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