Dromedário


deserto
deixo pegadas fugazes
giro o pescoço num ângulo de 360 graus
de calor
procuro sentidos além das montanhas mutáveis
 carrego minha corcova
cheia das covas dos mortos que me deram ovas
também suporto o peso de beduínos nada genuínos
minha força está no que acumulo de mim
o mundo arenoso pastel
uniforme na sua inconstância
almejo o mar que não vejo
não a praia com sol a pino
mas o noturno
onde pululam águas-vivas incandescentes
claraboias transcendentais
não quero mais o vento seco que cimenta meus grandes olhos
e reprime meu poros
rumino esperanças e lambo possibilidades profundas
um oceano de lulas envolventes
beijos de ventosas texturizadas
volúpia de membros lúbricos
pois
nasci dromedário
com ânsia de água-viva
 
Well Coelho
Enviado por Well Coelho em 26/10/2013
Código do texto: T4542857
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