A GOTA


Do canto do meu olho, onde hibernas,
quero sentir teu rolar, em minha face morna,
um pouco mais brilhante
e mais veloz.

És o aborto dos meus mais belos e caros sentimentos,
portanto,
gota que me transcende em lágrimas,
não te quero,
em minha fala,
escondida em sombras
e nuances pálidas,
feito insignificante pingo de água pesada e salgada -

pois a seiva de almas torcidas por ásperas mãos
de um mundo em calos, 
cá, comigo, tamanha é a intimidade 
que,
em meus recôndidos,
não haverá segredos ou travas que nos calem,
ou nos mascarem.
Mesmo quando,
intrépida rolando
(nos vômitos de raiva) 
vá rasgando as paredes da garganta - 
e pelo chão se espalhem.  

Definitivamente,
o mundo é bom -
(mas)  
e o bicho homem ?

Miriam Dutra
Enviado por Miriam Dutra em 23/10/2013
Reeditado em 17/04/2022
Código do texto: T4539040
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