Febre

Correm-me na pele

Frios calores em bálsamo

Leves, incolores

Em rios de papel

Gemem as nervuras

Entre capas escuras

Sinto-me tocado

Morno, enrugado

Em cores pastel

Rimas tremem nos lábios

Olhos espremem suor

Cabelos caem-se rápidos

Língua fala de amor

Ouve o som que a harpa canta

Sobre os ombros de uma carta

Ferida sobre uma manta

Gritando o raio que parta

E o micro liga-se surdo

A fronte geme-se em breve

Qual anjo gordo e papudo

Me salve já desta febre?

Ai as palmas de um palmo quente

Nuns braços duros de ardor

Rezam como povo crente

Sei lá das-graças senhor

Morro agora não nunca

Morresse ontem talvez

Que morte é coisa espelunca

Faltam-me aind’os porquês

Ouve o som que a harpa canta

Sobre os ombros de uma carta

Ferida sobre uma manta

Gritando o raio que parta

E o micro liga-se surdo

A fronte geme-se em breve

Qual anjo gordo e papudo

Me salve já desta febre?