uma tarde
Eu vomitei em um mendigo
ele, sem língua, não reclamou
eu, sem olhos, nem notei
passei reto, feito um acontecimento cotidiano
e toda as gentes que andavam pelo parque
continuaram a beliscar os seus sorvetes alegremente
para depois o vomitarem sobre o corpo no chão
Naquela tarde de outubro, tão comum com suas luzes roxas
caminhei de volta a minha casa, para o meu protesto silencioso ao mundo
era nove horas da noite, e o mendigo estava morto
fechei o jornal sem saber
a viatura da policia rodou calmamente a cidade sem nada notar
e mais um dia completamente comum se acabou