Vou dormir um pouco, para esquecer de mim.
Liduina Nascimento
Bicho de sete cabeças
Dor em cada canto dos olhos
Em cada gota d'água
Em cada árvore d'alma
Em cada galho
Dor de papagaio
Bico torto
Dor nos assoalhos
Atrás dos tapetes
Na janela
No mar morto
Em cada cicatriz
Tentei cortar raiz
Não consigo
Cortar a dor do dedo
Dos enfeites do bolo
Dor no pensamento
Dor no vento
Sorriu da dor
E a dor chora
Ao doar-se
Dor de fome
Dor de sede
Dor tem nome
"Parede sem parede"
Em mim
Psicose
Abismo sem fim
Dor de noites
Dor de dias
Dor de estrelas
Frias
Dor no camarim
Nos pés da Bailarinha
Quê chora
Dor nos andaimes
Do trapezista
Quê ora
Dor no acasalamento
Dor nas Nuvens
Dor na chuva
Amar-se
Dor de saudade
Dos amigos idos
Durmo com a realidade
Abraçada contigo
Dor de não ter paz
Dor que invento
Gotas de orvalho
Ao relento
Dor de sentimento
Dor, maldita dor
A dor enforca a cor
Nos pincéis do cais
Cor de belos dias
Dias que não voltam mais
Assassinos de animais
Sufocam a Lua
Dor nos calcanhares
Dor na sorte
Dor nos azares
Dor na morte
Dor no joanete
Não tenho
Mas Ela cisma
Que tenho
Caí na piscina vazia
Piscina de criança
Quê dor
Saí ileso
Meu amor
Dor, eterna dor
À cada dia que acordo
Adormeço com a dor
E com a dor acordo
A dor me morde
Com língua afiada
Corte de navalha
Pontuda faca
Bicho de sete cabeças
Ou sem cabeça nenhuma
Cobra
Estilete
Fuma
Funga
Suspira
Espirra
Geme
Grita
Dorme
Amanhece
Cadê minha sunga?
Dor em cada músculo
Em cada osso
A cada minuto
Dor da vida
Dor da morte
Dor do tamanho do universo
Não sinto dor
Quando escrevo versos.
Tony Bahi@.