[Árduos caminhos da palavra]

Tudo que se diz se perde;

eu escrevo para nada dizer!

Em raros instantes,

o meu caminho se ilumina,

e os passos que darei a seguir

parecem ter um rumo interessante,

como uma vaga promessa de algo bom...

Mas é uma arapuca: é apenas a isca

com que a vida oculta aquele anzol

agudo e traiçoeiro de sempre —

é assim mesmo que eu gosto:

quero, não dizendo nada,

dizer um incerto quase tudo.

Escrever é um jogo da vida,

e eu ganho o jogo quando

pelo menos uma pessoa

vê algum sentido muito diferente

da minha intenção original,

— descompreender é superior

a [imaginar] compreender!

Mas não sou linear nas coisas da vida:

nem um prazer é só prazer até o fim,

nenhuma dor é completamente dor,

nenhuma angústia é plena angústia,

nenhuma ansiedade termina ao fim da espera,

assim, nenhuma espera é espera bastante!

Sou, a um tempo, uma irrequieta

conjugação de completeza e falta,

síntese de vontade de solidão

e de ansiosa carência de presença;

— ah, são ínvios os caminhos

até o meu ser inessencial, inútil,

e que a ninguém faz falta...

Árduos são os caminhos da palavra!

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[Desterro, 13 de outubro de 2013]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 13/10/2013
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