[Árduos caminhos da palavra]
Tudo que se diz se perde;
eu escrevo para nada dizer!
Em raros instantes,
o meu caminho se ilumina,
e os passos que darei a seguir
parecem ter um rumo interessante,
como uma vaga promessa de algo bom...
Mas é uma arapuca: é apenas a isca
com que a vida oculta aquele anzol
agudo e traiçoeiro de sempre —
é assim mesmo que eu gosto:
quero, não dizendo nada,
dizer um incerto quase tudo.
Escrever é um jogo da vida,
e eu ganho o jogo quando
pelo menos uma pessoa
vê algum sentido muito diferente
da minha intenção original,
— descompreender é superior
a [imaginar] compreender!
Mas não sou linear nas coisas da vida:
nem um prazer é só prazer até o fim,
nenhuma dor é completamente dor,
nenhuma angústia é plena angústia,
nenhuma ansiedade termina ao fim da espera,
assim, nenhuma espera é espera bastante!
Sou, a um tempo, uma irrequieta
conjugação de completeza e falta,
síntese de vontade de solidão
e de ansiosa carência de presença;
— ah, são ínvios os caminhos
até o meu ser inessencial, inútil,
e que a ninguém faz falta...
Árduos são os caminhos da palavra!
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[Desterro, 13 de outubro de 2013]