ONTEM

Perfume tenro toca meus lábios

Teus pensamentos me são pássaros

A lua ingrata inunda meu quintal

Das coisas que guardei por muito tempo

Tua fronte lúcida e tenaz

Inibe meu corpo covarde

Pusilânime, escondo-me por detrás da cortina

Há visitas na sala-de-estar que não consigo ver nos olhos

É estranho ver o corpo desgarrado da cerviz

Por não ter visto o golpe iminente do carrasco

Estranho o peso do corpo

Quando se orbita por demasiado este planeta

O tempo enrugou minhas mãos

Amassou minhas vestes

E deixou velha a lembrança do dia em que

abriste para mim a porta de tua alma

De tua casa me recordo das loiças e pratarias

Não o cheiro de tua cozinha

Nem das dobras de tuas cobertas

Recordo-me da sala e dos quadros

E de seus detalhes

Mas não do calor de tuas mãos sobre as minhas

Quando refestelados na poltrona, "não-assistíamos" a nada

Pois nada faltava e teu sorriso bastava

Para alimentar o meu dia

Luciano Moreno
Enviado por Luciano Moreno em 11/10/2013
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