Fragmentos 73 [não-ser sendo]

O sofrer é a totalidade!

Amar é escolher,

é negar um mundo,

infiltrar-se, criando, outro

paralelo.

E sofrer é amar.

Portanto, amar é a totalidade.

Mas uma totalidade sofrida,

capenga,

falsa.

Determinada a ser o que não é,

ao não-ser:

determinar é negar.

E negar é tudo.

É uma totalidade sofrível,

contudo, verdadeira.

Sofrer é negar,

ao passo que negar é sofrer.

E o não-ser continua não-sendo,

nunca sendo...

Permanece abstrato, quase-falso:

o nada é mais extenso que o determinado.

E este, por sua vez, é fantasia.

Duplicidade na via,

sofrimento é vida:

e quando não, a totalidade deve ser rompida,

esquartejada,

levando tudo consigo:

sofrer e viver andam juntos,

de mãos dadas,

permeando o mundo,

preenchendo-o com nada.

Escolha é cilada:

intransponível, imperecível.

Determinado a escolher,

a negar:

ainda assim,

sofrer é o não se entregar,

ainda que engendre amar:

determinado a determinar:

nega!