Misantropia de dois

A impossibilidade do toque rasga o tecido da saudade

de alguém que nem ao menos vi com os olhos de carne,

mas já conheço no fundo da alma.

Algo menor no que se sente, além do toque, da pele, da textura.

Sentir sua enorme capacidade, sua emoção e desejos retidos

Tudo isso me faz mais ou menos vivo

Como navalha na carne, trazendo o lembrete da dor de existir.

Nas noites de lua grande, eu uivo por sua presença,

no gemido de prazer deserto, o sussurro que se perde no despertar

Entre cintilantes pontos prateados da palidez da face noturna.

[Pele branca e tenra, se acaba em prazer.]

Contraste entre sombra e pele em que se escondem todas as linhas e curvas

Ar que se move em moroso ritmo e Tempo que sorri em descaso.

Pequenas crianças que não sabem que não lhes resta muito.

A curiosidade a move, pois por baixo daqueles óculos e fachadas morais

sabe que ele também permeia o despertar.

Um demônio sufocado, desvairado, esquecido.

Talvez dez, vinte metros ou duas cabeças

Um monstro sob a pele que se arranha em desespero para ser livre.

Por que o prendes? Se és tão lindo, quanto o universo angelical cristão

O céu perde a graça, quando o amor não é liberdade.

Mas sabes que um lindo anjo luminoso também caiu

E dizem os cleros que é o nosso pior inimigo...

...por que a tortura com suas negações, suas perturbações e inibições?

Se em uma noite, as fadas realizarem teu desejo,

vibro e não esqueço:

Ao seu clamor eu pertenço.