SOBRAS

Sempre de tudo fica um pouco
e até de nada sobra algo,
seja um recado perdido,
uma jóia fragmentada
ou um resto de perfume.

     Há sempre alguma coisa
     que deixa uma marca.
Pode ser um lenço que secou,
uma canção que não se completou,
um cheiro antigo de cabelo molhado,
uma velha receita que não deu certo,
um esquecido disco arranhado,

     O que sobra fica por aí,
     ao sabor das marés,
     das noites de luar,
     dos calores diurnos,
     dos apitos de adeus dos navios,
     do badalar de sinos vespertinos.
De tudo fica um pouco,
até da gente há resíduos,
um olhar que um dia brilhou,
uam alegria que esplandeceu,
um sorriso que não envelheceu.

     Mas essas coisas que ficam
     podem ser terríveis,
     podem ser temporais de verão,
     um soluço afogado,
     mãos que já não se expressam,
     lembranças de um belo corpo.
De tudo fica um pouco.
Mas será que vale a pena
juntar essas sobras do passsado?
 


 
Otávio Coral
Enviado por Otávio Coral em 09/10/2013
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