[Escapar rumo ao azul]
["Tudo é velho onde fui novo" —
F. Pessoa/ Álvaro de Campos, "Notas sobre Tavira"]
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Quando eu era menino,
eu nem era — eu escapava
dos meus agoras rumo ao azul!
Jamais eu estava ali, no chão,
onde tudo era estranho, novo...
Mas o tempo passou...
e sei bem: se eu volto lá,
tudo é [transtorno] novo
onde eu me sabia velho...
Ah, o peso do mundo... Velho sim,
pois, nas tardes chuvosas,
eu gemia lembranças herdadas,
eu sofria tanto, mas tanto
por coisas e tramas de tempos
que eu nunca antes vivera...
Por isso, não sei... talvez...
sim, talvez por isso o azul
me atraía tanto, tanto...
era preciso, para atenuar
o mal da minha velhice-criança,
que eu me perdesse no azul...
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[Desterro, 08 de outubro de 2013]