Mães
Euna Britto de Oliveira
Sobre a mesa da sala da filha,
Em exposição,
Antigüidades que pertenceram a sua mãe.
São galinhazinhas de vidro colorido
De diversos tamanhos
Manteigueiras, jarras de cristal
Uma compoteira azul
Uma bandeja estampada de rosas
E outros objetos...
Como podem coisas tão frágeis durar mais do que uma pessoa?
Pois foram deixadas por uma senhora que as possuía,
Uma mãe que não era a minha
E acaba de partir...
Dentro da Bíblia, amarelecida, dobrada e guardada
No lugar mais sagrado que encontrei,
Uma carta de minha mãe.
De tantas palavras amigas,
Muita coisa ficou gravada, mas não tudo.
De seus bordados, um ninho de passarinhos
Um chalé suíço
Um arranjo de frutas
Ainda lhe sobrevivem, no trabalho inacabado...
Como pôde uma mãe, que era a minha,
Tornar-se tão invisível, tão sem endereço,
E durar menos do que uma carta escrita a lápis,
Do que um pano bordado,
Do que uma planta?...
Pois são assim as pessoas:
Fortes e ao mesmo tempo frágeis,
Presentes e passageiras,
Concretas e ameaçadoramente abstratas...
Entre as pessoas mais comuns,
Estão as mães.
Como todo ser humano,
Como os próprios filhos,
Devem ser tratadas com amor freqüente,
Com amor urgente,
Antes que cumpram o seu tempo e passem,
Deixando apenas rastros...
Aí, então, delas receberemos luz,
Porque são astros...