CRIANÇA SEM GRAÇA
Por que choras criança sem graça?
Deixada ao léu que moras na praça
Que passa fome, e jogada às traças,
Vagando sem rumo perdida na massa?
Já não te encontram e ninguém te acha
Pois se és 'delinqüente', alguém te caça.
Há quem te desdém e também desfaça.
Por ti nunca achas quem algo te faça.
Chora criança sem esperanças
De vida curta, de muitas andanças
De melancolias, de tristes lembranças
Escrava do medo, refém das matanças.
Ouso perscrutar onde estão teus país
Sei de tua dor, bem sei dos teus ais.
Querem-te um dia, depois não mais.
Não tendes lugar, para onde vais?
Lá na esquina és número em chacina
Tua vida efêmera também pouco ensina
Bem cedo terminas e assim é tua sina,
Um poema sem graça, muito menos rima.
Não chores criança, pois o tempo passa
Renova teus sonhos e não vires caça
Preserva tua vida, não vires fumaça
Teu corpo sem vida é fel numa taça.