TEU E MEU
Como o cego que não vê,
o ébrio que tropeça,
a onda que reflui ao mar que a arremessa,
como o sol que se põe e renasce imutável...
Como a chama que queima,
a fumaça que evola,
assim vive esse amor:
imprevisto, risonho,
cego à própria luz,
bêbado do seu sonho,
irrequieto, constante, ardoroso, pungente...
Cresce em ondas e após ,
em espuma docemente se desfaz,
grande e manso,
doce e altivo,
envolvente e profundo.
É um amor que nasceu de um pequeno sorriso,
de um tímido olhar,
de um aceno impreciso,
e tão logo cresceu quase maior que o mundo...
Rico amor de ilusão, num vestido de sonho,
ele esconde a nudez proibida e profana,
que o frio olhar do mundo só exproba e condena.
Pobre amor teu e meu,
tão secreto e silente,
abismo de nos dois,
angústia recrescente,
estrela a se apagar na aurora do depois...